Os corres e o empreendedorismo negro

08/12/2016

   Estava dando uma passada nos textos desse ano e vi uma publicação da revista Exame sobre negros no empreendedorismo dando a entender que por conta de uma pesquisa do Sebrae, negros estariam empreendendo mais. O que eles esquecem é que o dinheiro que está correndo nas mãos dos pretos é muito menor do que corre nas mãos de brancos. 

    O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, Sebrae, publicado em 2015 com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, PNAD, afirmou que 50% dos donos de negócio são pretos ou pardos, 49% brancos e 1% pertencem a outros grupos populacionais. Porém, O Sebrae, faz uma distinção entre o empresário por "conta-própria" e o "empregador". Da qual, demonstra que os negros seriam os sujeitos que trabalha sozinho, ou tem a ajuda de um sócio e os branco disponibilizam de uma melhor infraestrutura, podendo contratar funcionários. Entre os negros, 91% são empreendedores por conta própria e apenas 9% são empregadores. Já entre os brancos, os números são de 78% empreededores e 22% empregadores.

     Aí você olha essa pesquisa e pensa "OH, que legal, negros são maioria" e leva isso como positivo. Porém, ao perceber que negro são empreendedores, mas atuam nas áreas de menor valor econômico e social como a pesca, ambulantes e cabeleireiros e não possuem melhor infraestrutura para contratar funcionários, fica bem claro que o empreendedorismo não é alternativa e sim, necessidade.

     Grande parte desses negros, estão empreendendo forçadamente para sobreviver porque foi necessário, historicamente e socialmente falando, que a gente "se virasse", fizessem os "bicos, desse "os corres", para que não morrêssemos de fome. Esses "corres", pós a regularização do MEI, são colocados como empreendimentos. O MEI, micro empreendedor individual, veio pós a lei complementar n° 128, de 19/12/2008, que criou condições para que o trabalhador rotulado como informal possa se regularizar diante do mercado. Só que o simples cadastro e pagamentos para regularização não aumenta as perspectivas de crescimento.

     É claro que com a maior democratização da universidade, a tentativa de equiparações, o número de negros abrindo empresas e liderando partes de alguma empresa aumentou, porém discutir empreendedorismo preto, sem falar sobre subsistência é muito perverso. Também, dizer que negros possuem a mesmas oportunidades que brancos no ramo empresarial é algo sem fundamento.

      Enfim, "dar os corres" para negras e negros sempre foi uma forma de sustentar sua vida, sua família, não passar fome. Se atualmente, temos chance de regularizar o nosso "corre" não significa que as dificuldades acabaram e que todos possuem as mesmas oportunidades. 

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